Por Bruna Miato, g1
Foto- Sindicato dos Bancários do Pará
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Este foi o quinto aumento consecutivo dos juros, em uma sequência de altas que começou em setembro do ano passado. E não deve ser o último: o BC indicou que poderá aumentar novamente a Selic na próxima reunião, marcada para os dias 6 e 7 de maio.
Especialistas ouvidos pelo g1 também esperavam mais uma alta este ano, e o mercado projeta que a Selic deve encerrar 2025 próxima aos 15% ao ano, segundo o boletim Focus (relatório do BC que reúne as projeções de mais de 100 instituições financeiras).
A principal razão para essa visão pessimista é a inflação brasileira, que encerrou 2024 com alta de 4,83%, acima da meta do BC, e deve fechar 2025 em um patamar ainda maior, segundo as projeções.
O Focus aponta uma projeção de 5,66% para a inflação de 2025, enquanto a meta continua a mesma: de 3%, com intervalo de tolerância entre 1,50% e 4,50%. Até fevereiro, dado mais recente do IBGE, o IPCA acumula alta de 5,06% em 12 meses.
Por que o aumento de juros é necessário neste cenário?
Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, a principal forma de reduzir a inflação é desaquecendo a demanda por meio do aumento dos juros.
Quanto maior a taxa Selic, que serve de referência para todas as taxas aplicadas no Brasil, maiores também serão os juros cobrados em operações financeiras. Isso torna a tomada de crédito pela população mais cara, caso de financiamentos, empréstimos ou parcelamento de compras no cartão.
A lógica é que, com o crédito mais caro, menos pessoas buscam alternativas para realizar compras de novos produtos ou consumir serviços.
O freio começa pelas compras de maior valor, como imóveis, carros ou outros bens duráveis. Com o tempo, reduz a demanda por serviços, já que o acesso mais custoso ao dinheiro leva a uma priorização dos gastos essenciais.
Por isso, os economistas explicam que há um intervalo entre uma decisão do Copom e seu efeito na economia real. O cálculo é que qualquer mudança na Selic demora ao menos seis meses para ser sentida.
A expectativa do mercado é de que o Copom mantenha os juros altos por mais tempo, para que o efeito dure tempo suficiente para reduzir o consumo e diminuir a inflação.
- O Inter projeta mais uma alta de 0,50 p.p., levando a Selic aos 14,75% ao ano. O banco acredita que os juros devem começar a cair ainda em novembro.
- O PicPay projeta uma alta de 0,75 p.p., levando os juros a 15% ao ano. E só espera que o ciclo de quedas comece em janeiro de 2026.
- A XP espera duas altas, uma de 0,75 p.p. e outra de 0,50 p.p. A Selic chegaria a 15,50% no meio do ano. Os cortes também só devem começar no início do próximo ano.
"Esse patamar reflete a necessidade de conter pressões inflacionárias persistentes, especialmente nos serviços, e a demanda aquecida", comenta Rodolfo Margato, economista da XP.
"A partir daí, projetamos cortes graduais a partir de 2026, com a taxa caindo para 12,50% até dezembro de 2026. No entanto, isso depende de uma desaceleração ordenada da economia e do controle fiscal."
Quando os juros sobem muito, cresce também a cautela com a possibilidade de uma desaceleração da atividade econômica do país. Mas os economistas avaliam que o desaquecimento da economia já é esperado, e o Brasil não deve passar por uma recessão neste ano.
A mesma opinião aparece no Focus, que aponta uma estimativa de crescimento de 1,99% para o PIB em 2025. No ano passado, o país cresceu 3,4%.
"Mesmo com a desaceleração econômica, o BC precisará manter os juros altos para combater a inércia inflacionária e ancorar expectativas. Só veremos cortes quando houver sinais claros de que a inflação convergirá para a meta de 3% no médio prazo", diz Margato.