Com mais de um ano até as eleições de 2026, a denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode influenciar o cenário político brasileiro e a corrida pelos votos. Especialistas entrevistados pelo R7 avaliam que o caso pode retirar Bolsonaro do jogo, mas fortalecer outros candidatos conservadores e reacender o discurso da base de apoio do ex-presidente, que ainda tem grande peso eleitoral.
Segundo o cientista político André César, a direita pode até “perder Bolsonaro como candidato, mas a ideologia e a mobilização continuam”.
A denúncia, apresentada ao STF (Supremo Tribunal Federal) pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, na terça-feira (18), aponta o ex-presidente como peça central em uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
O documento de 272 páginas, que será analisado pela Primeira Turma do STF, descreve como o suposto plano teria sido arquitetado, detalha o envolvimento de Bolsonaro e outros 33 aliados e apresenta evidências, como o discurso que teria sido preparado caso o golpe tivesse sido concretizado.
Para o cientista político Daniel Pinheiro, professor da Udesc Esag, o momento lembra a crise vivida pelo lulismo no passado. Ele ressalta que, quando figuras políticas polarizadoras enfrentam processos judiciais, isso pode gerar um efeito de comoção e fortalecer sua base de apoio, independentemente do desfecho jurídico.
“Essas lideranças não representam apenas uma pessoa, mas sim uma ideia. E essa ideia pode ser maior do que a própria figura política. No caso de Bolsonaro, o que estamos vendo desde a denúncia da PGR é uma reação intensa de seus apoiadores nas redes sociais. Esse fenômeno cria um movimento de defesa, no qual a figura do líder é vista como alguém que está se sacrificando por seus seguidores”, analisa Pinheiro.
Segundo ele, a base bolsonarista continua fiel e pode se reorganizar em torno da narrativa de perseguição política. “Ao mesmo tempo que Bolsonaro pode ficar fora da disputa, sua ausência pode fortalecer novas candidaturas dentro da direita, pois o discurso pode se transformar em ‘quem vai protegê-lo?’ e ‘quem pode continuar seu legado?’”, explica.