Carne bovina: Brasil dará “passo principal” para abrir mercado do Japão, diz ministro
Carlos Fávaro confirmou a expectativa de que o governo japonês envie uma missão técnica para avaliar frigoríficos e o sistema sanitário brasileiro
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou, nesta segunda-feira (24/3) que o Brasil dará o “principal passo” para a abertura do mercado japonês para a carne bovina brasileira durante a missão oficial ao Japão nesta semana. Em entrevista à CNN Money, ele confirmou a expectativa de que o governo japonês anuncie o envio de uma missão técnica ao Brasil para avaliar os frigoríficos e o sistema sanitário brasileiro, conforme adiantou a reportagem na semana passada.
O envio da missão é algo inédito na relação comercial de 130 anos entre Brasil e Japão e pode ser o último passo antes do anúncio da abertura do mercado. O Japão já importa carne de aves do Brasil. Uma das exigências dos japoneses é que o país seja considerado livre de febre aftosa sem vacinação. A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) deve anunciar esse reconhecimento em maio.
“É um tema que a gente persegue há muitos anos, temos um avanço previsto a partir dessa viagem em que eles devem anunciar a visita de pessoas experientes que possam visitar o Brasil e conhecer o arranjo produtivo brasileiro, as plantas frigoríficas”, disse Fávaro, em Tóquio onde acompanha a comitiva liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta semana.
“Estamos na iminência de receber da OMSA o certificado do país todo livre de aftosa sem vacinação, uma exigência do Japão. Além da visita [dos técnicos], vamos dar o passo principal para que o Brasil possa abrir esse mercado para carne bovina”, completou.
Um mercado de 700 mil toneladas
O Japão importa cerca de 700 mil toneladas de carne bovina por ano, principalmente dos Estados Unidos e Austrália. O Brasil quer abocanhar uma fatia desse mercado. Paralelamente às agendas da comitiva oficial, um grupo de empresários brasileiro está em Tóquio para reuniões com importadores.
Também nesta segunda-feira, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) se reuniu com a Japan Meat Traders Association, a associação japoneses de exportação e importação de carne. Roberto Perosa, presidente da entidade brasileira, disse que reforçou o compromisso do Brasil com o fornecimento de produto “de qualidade, acessível e com elevados padrões sanitários”, reconhecidos por mercados exigentes como Estados Unidos, China e União Europeia.
O presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) também está na viagem. Os empresários brasileiros do setor de carne bovina terão uma agenda com o presidente Lula nesta terça-feira (25/3), após o encontro do presidente com o imperador japonês Naruhito. A ideia inicial era oferecer um jantar ou almoço em uma churrascaria brasileira em Tóquio, que chegou a ser reservada para o encontro.
Fávaro também confirmou a expectativa de assinar a revisão do protocolo sanitário com o Japão para a regionalização do país em um eventual caso de gripe aviária. O Brasil é um dos poucos países que nunca registrou episódios da doença em plantel comercial.
Pelo entendimento atual firmado com os japoneses, porém, caso isso ocorra, haverá embargo para as exportações de todo o país. No acordo que será assinado, essa restrição passará a ser apenas para o município onde o caso eventualmente acontecer.
“É um assunto muito importante que interessa aos dois lados, pois não está livre de acontecer (...) Já que o Brasil é um grande fornecedor de frango par ao mundo e para o Japão, caso venha a acontecer um caso de gripe aviária, não fecha [as exportações] o Brasil todo”, completou o ministro.
O secretário de comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luis Rua, também participou da reunião com importadores japoneses.
“Reafirmamos a qualidade, a sanidade, a complementariedade e a estabilidade das nossas proteínas. O importante é fazermos do Brasil um importante player no mercado mundial de proteínas. O mercado japonês é um mercado de alto valor agregado, e o Brasil tem trabalhado para que possamos conseguir, em um breve espaço de tempo, acesso a esse importante mercado”, disse.
Nesta terça-feira (25/3), Fávaro vai se reunir com o ministro da Agricultura, Silvicultura e Pesca do Japão, Taku Eto, para tratar dos avanços nas questões sanitárias e técnicas, com o pedido de uma visita dos técnicos japoneses ao Brasil para avaliar o sistema sanitário brasileiro.
Outro tema que deve avançar no Japão são os biocombustíveis, disse Fávaro. Há previsão de assinatura de um acordo nessa área. A União Brasileira da Indústria de Cana-de Açúcar e Bioenergia (Unica) vai participar de um painel sobre “descarbonização e estratégias energéticas” no Fórum Brasil Japão 2025, que contará com a participação de Lula.
“O etanol brasileiro é o de menor intensidade de carbono do mundo, com menor preço pelo carbono evitado. O etanol de cana-de-açúcar e milho de segunda safra brasileiro reduz entre 75% e 80% as emissões de carbono comparadas com a gasolina”, afirmou Evandro Gussi, presidente da Unica, em nota. “E tem potencial para chegar próximo a emissões neutras de carbono por meio de iniciativas de redução de emissões como uso de biometano para substituição de diesel na frota agrícola, dentre outros”, completou.
A meta do Japão é elevar a mistura de etanol para 10% até 2030, com ampliação da demanda diária de etanol até 12,2 milhões de litros, totalizando 4,45 bilhões de litros anuais. Além disso, o país também avança no marco regulatório para o desenvolvimento do Combustível Sustentável de Aviação (SAF), que tem no etanol uma das rotas mais promissoras, informou a Unica.
A expectativa é que o Brasil possa “compartilhar a experiência na produção, logística, infraestrutura e regulação de biocombustíveis, adquirida ao longo de 50 anos de uso do etanol em larga escala na matriz de transportes”, disse a entidade, em comunicado.
“Tanto do lado brasileiro quanto japonês, observamos esforços que reconhecem o papel fundamental do etanol e demais biocombustíveis na transição energética”, concluiu Gussi.