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Assassinato de Nery

“Estamos exaustos e adoecidos; ninguém da família está em paz” diz filha de advogado assassinado

Lívia Nery revela angústia da família com o avanço das investigações e cita medo da impunidade

 

 

Victor Ostetti/MidiaNews


PIETRA NÓBREGA

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DA REDAÇÃO

Victor Ostetti/MidiaNews

"Exaustos e adoecidos". É assim que a empresária Lívia Nery descreve o estado de sua família após oito meses do assassinato de seu pai, o advogado e ex-presidente da OAB-MT, Renato Nery. 

Meu pai não tinha nenhum atrito com policiais. Eles foram os executores, mas quem mandou matar?

Ele foi morto no dia 05 de julho de 2024, alvejado por sete tiros, à luz do dia, na Avenida Fernando Corrêa, uma das mais movimentadas de Cuiabá. 

Cinco policiais militares da Rotam, suspeitos de participação no crime, foram presos preventivamente. Porém, uma dúvida persiste: quem mandou matar o advogado, e por qual razão? 

"Quando isso [prisão de policiais] veio à tona, no dia 6 de março, ficamos extremamente abalados, porque nesse momento estamos exaustos. Estamos há oito meses em cima disso, vendo processos do meu pai, o que tinha relação, o que não tinha, o que pode ser, o que não pode", afirmou Livia em entrevista ao MidiaNews

"Agora, estamos extremamente cansados. E ver que não foi um executor, mas sim vários, que existem várias pessoas envolvidas, nos abalou muito. Estamos adoecidos", disse. 

Enquanto as investigações avançam sob sigilo, a família clama por Justiça e receia que a verdade nunca venha à tona. 

"Acho que o fato maior é saber quem teve o poder para contratar policiais, ainda mais da Rotam. Meu pai não tinha nenhum atrito com policiais. Eles foram os executores, mas quem mandou matar?", questiona. 

Confira os principais trechos da entrevista: 

MidiaNews - Os últimos desdobramentos das investigações do assassinato do advogado Renato Nery, mostraram que policiais que são agentes do Estado, pagos para defender o cidadão, possivelmente podem ter matado o seu pai. Como foi receber a notícia do cumprimento dos mandados de prisão temporária contra os PMs da Rotam?  

Lívia Nery - A gente recebeu essa notícia como uma surpresa muito grande, não esperávamos que fossem tantas pessoas, porque não foi só uma pessoa, a gente já tem vários com probabilidades, não sabemos se existem mais envolvidos. Foi como reviver o dia que aconteceu, porque a gente está falando de policiais militares. 

Ficamos extremamente surpresos, porque eu já tinha dado entrevistas anteriormente de quando aconteceu o fato e a polícia estava ali, ficamos extremamente confusos. Porque tinham policiais ali na hora. A gente jamais esperava algo desse tipo, que fossem policiais envolvidos. 

Da mesma forma que a sociedade ficou surpresa, nós, a família, ficamos também.  

MidiaNews - E qual o impacto de saber que policiais que deveriam proteger os cidadãos podem ter cometido o assassinato do seu pai?  

Lívia Nery - O fato de serem policiais, independe, são criminosos. São pessoas que deveriam estar lá pela nossa segurança. Mas o fato maior é saber quem teve o poder para contratar policiais, ainda mais da Rotam. Meu pai não tinha nenhum atrito com policiais. Eles foram os executores. Mas quem mandou? 

Isso nos assustou muito mais. Quem tem o poder de contratar policiais para fazer um crime desse? Então, o nosso impacto foi muito maior por isso. Mas lógico que isso nos abalou, de saber que quem poderia estar dando a segurança são na verdade criminosos. Isso nos deixa mais inseguros.  

Isso nos assustou muito mais. Quem tem o poder de contratar policiais para fazer um crime desse?

MidiaNews - A expectativa é de que isso acelere a elucidação do caso? 

Lívia Nery - Chegando aos executores, acreditamos que é muito mais fácil chegar aos mandantes. Porque eles já localizaram a moto, localizaram a arma, tanto é que foi uma arma extremamente profissional, difícil de ser encontrada, foi uma arma adaptada para ser uma metralhadora. Nós sabíamos desde o início que quem fez era muito profissional. 

Mas a gente acredita, sim, que agora fica muito mais perto. Se chega nos executores é mais fácil chegar no caminho do mandante. E eles estão presos, talvez possam falar alguma coisa, mas o nosso medo é acabar esse período da preventiva e liberar e não dar em nada. Também temos essa insegurança. 

MidiaNews - Os mandatos de busca e apreensão dessa fase trouxeram alguma evidência concreta que a Polícia Civil compartilhou com a família? 

Lívia Nery - Não. As investigações são extremamente sigilosas. Nós tentamos, fomos até a delegacia para saber algumas coisas, mas a gente também sabe que isso faz parte do trabalho deles, de como funciona, que não podem expor nada. 

MidiaNews - Na operação de novembro de 2024, os advogados do escritório JB Advocacia foram alvos. A família acredita que há uma ligação entre esses nomes e os PMs presos agora? 

Lívia Nery - Não temos como afirmar nada. Meu pai tinha uma série de processos, até por ser advogado, sobre pessoas desse escritório. Da mesma forma que você falou, fomos pegos de surpresa que foram policiais. Acho que a própria Polícia saberia muito mais informar isso, porque para contratar policiais isso foi um crime extremamente caro, foi um crime muito bem pensado. 

 

MidiaNews - Além da disputa agrária em Novo São Joaquim, investiga-se que o crime teve relação com dívidas ou transações financeiras. Há algo que a família queira esclarecer sobre isso?

 

Lívia Nery - Não. Eu acho que não tem nenhuma relação com dívidas, até porque a gente teve acesso a todas essas questões. Esses processos do meu pai, nós só tínhamos os processos vinculados a questões agrárias, não tinha nenhuma dívida financeira ou qualquer outra coisa relacionada a isso que nós tenhamos conhecimento.

 

MidiaNews - Há suspeitas que o mandante possa ter conexões políticas ou influência institucional. A família teve acesso a informações desse sentido?

 

Ficamos abalados, porque nesse momento estamos exaustos. Estamos há oito meses em cima disso

Lívia Nery - Não, de forma alguma. Não tem como afirmar se tem alguma conexão com política ou com alguma instituição.

 

A única coisa que a gente tem são evidências e não por provas. Foi um crime muito caro e tinha que ser alguém com influência para contratar pessoas dentro da Polícia. Mas isso não cabe a nós falar quem é, até porque a gente não sabe.

 

MidiaNews - Os policiais presos eram conhecidos do Renato Nery ou tinha um histórico de atuação em conflitos agrários?

 

Lívia Nery - Não, não tinha. E é muito, não falo estranho, mas peculiar que tenham sido policiais. Porque meu pai nunca, por exemplo, se envolveu em processos criminais. Nunca houve processo criminal.

 

Então, é muito claro para nós que eles são meros executores. Nosso questionamento hoje é quem mandou matar o meu pai? Não quem matou. 

 

 

MidiaNews - E como foi para você saber que tantas pessoas estão envolvidas nisso? Qual a sensação?

 

Lívia Nery - Quando isso veio à tona, no dia 6 de março, ficamos sabendo, eu, a minha irmã, o nosso advogado e meu irmão, ficamos extremamente abalados, porque nesse momento estamos exaustos. Estamos há oito meses em cima disso, vendo processos, os processos do meu pai, o que tinha relação, o que não tem, o que pode ser, o que não pode.

 

Nós também ficamos com esse questionamento diário. E quando aconteceu, a gente estava literalmente pronto para guerra. Agora, estamos extremamente cansados. E ver isso, ver que não foi um executor e sim vários, existem várias pessoas envolvidas, nos abalou muito, estamos adoecidos.

 

Essas prisões são apenas prisões preventivas. Não tem como a gente ficar tranquilo

Fizeram isso numa das avenidas mais movimentadas da cidade, como se não temesse nada. Nada.

 

MidiaNews - Isso não deixa ninguém em paz...

 

Lívia Nery - Não, de forma alguma. Acho que ninguém da minha família está em paz.

 

MidiaNews - Com as prisões, a família se sente mais segura ou ainda teme represália? Há medidas extras de proteção sendo tomadas? Como a família está se sentindo neste momento?

 

Lívia Nery - Essas prisões são apenas prisões preventivas. São prisões para investigação, para aprofundamento, para chegar em alguma coisa. Não tem como a gente ficar tranquilo. Sobre medidas de segurança, isso é muito pessoal para gente expor.

 

Eles podem ser liberados, os suspeitos já tinham sido envolvidos em outros crimes. E estavam soltos. Tinha ali provas de que estavam envolvidos na [Operação] Simulacrum, em tráfico, e estavam soltos. Então eles podem ser soltos a qualquer momento. É como se fosse ficar impunes.

 

 

MidiaNews - Quando você sai na rua, se sente segura? Qual que é a sensação da sua família, dos seus filhos? 

 

Lívia Nery - Esse sentimento de medo constante já passou, até porque a gente precisa viver. Não existe mais, a gente não está com essa insegurança doentia, de que vai acontecer alguma coisa a qualquer momento. Já estamos um pouco mais tranquilos, mas existe, uma insegurança contínua, até porque ainda não sabemos quem fez, o que está acontecendo, quem está envolvido, quem são esses policiais. Quando a gente sai, não é da mesma forma. Até pessoas novas que se aproximam, a gente não sabe se têm segundas intenções, para saber mais sobre o caso ou de algum outro detalhe.

 

MidiaNews- O advogado da família falou algo, se vai haver previsão de denúncia do Ministério Público contra essas pessoas?

 

Esse sentimento de medo constante já passou, até porque a gente precisa viver

Lívia Nery- Não, o que é sabido é que foram colocados mais promotores no caso para investigação, mas isso a gente não tem conhecimento.

 

Midia News - A família identificou algum ponto que ainda não foi explorado pela Polícia e que considera crucial para investigação?

 

Lívia Nery - Não. Tivemos livre acesso com a Polícia, tudo o que a gente achava que poderia ser pertinente, pessoas, informações, tudo foi dito. E ainda o delegado Bruno [Abreu], que está à frente, nos deixa de portas abertas para novas informações algo que consideramos relevante, notícias que saem na mídia ou mesmo coisas que nos enviam. Com relação à investigação, a gente está tendo uma boa relação com a Polícia.

 

MidiaNews - E como que está a sua rotina? Tem frequentado a delegacia, tem contato constante com o delegado Bruno Abreu? Como está comunicação?

 

Lívia Nery - Quando a gente precisa falar alguma coisa, a gente vai. Quando estourou essas investigações, fomos, procuramos ele para saber algum posicionamento.

 

Ele só fala o que está na mídia, o que a gente pode saber, e o que cabe falar, e mostrou prontamente a quantidade de pessoas que estão envolvidas nessa investigação, a quantidade de investigadores, de policiais, tem muita gente atrás, nos bastidores, investigando.

 

 

MidiaNews - Como tem sido lidar com essa nova fase da investigação após meses de angústia? A sensação é um pouco de alívio ou ainda uma frustração pela demora? Quanto tempo acha que ainda pode sustentar tudo isso?

 

Lívia Nery - A gente não tem como precisar nada, existem casos que são resolvidos em seis meses, em um ano, em dez anos. Então, a própria Polícia fala isso. E desde o princípio foi falado muito da complexidade do caso. Que era um caso extremamente complexo, por não ter deixado pistas, rastros.

 

A gente não sabe quando vai ser, a gente acredita que agora, pegando os executores, possa chegar mais rápido, mas o foco deve ser quem mandou matar e não quem fez. Quem mandou fazer é o principal. O nosso foco é chegar no mandante.

 

MidiaNews - Mas há uma frustração ainda pela demora?

 

Foco deve ser quem mandou matar e não quem fez. Quem mandou fazer é o principal.

Lívia Nery - Sim. Como isso foi uma bomba quando aconteceu, achavamos que poderia ser resolvido em 30 dias, em 60 dias. A gente viu que podia ser 6 meses, agora não sei se podem ser anos. Existia uma ansiedade muito grande da gente saber alguma coisa. Hoje estamos mais calmos, porque a gente viu que as coisas não acontecem no nosso tempo.

 

MidiaNews - Como a família pretende honrar o legado dele? Especialmente agora que o caso ganha novos capítulos.

 

Lívia Nery - Essa é uma pergunta difícil, porque o meu pai era um defensor contínuo, constante, da verdade. Tanto é que já se passaram oito meses e não tem nada que prejudique a imagem dele, que descobriram no celular, que tiveram acesso nos computadores, nada da conduta dele. Porque ele acreditava na justiça.

 

Tanto é que ele era esse advogado extremamente combativo. Acreditamos que a resolução desse caso, se a gente conseguir chegar em quem realmente executou, quem fez, seria a maior forma de honrar. 

 

MidiaNews - Vocês vão até o fim, não importa o tempo que demore?

 

Lívia Nery - A gente vai até onde a Justiça nos permitir.

 

 

MidiaNews- Mesmo com as prisões, há preocupação de que os mandantes não sejam identificados? Como avaliar o risco de o caso ficar incompleto?

 

Lívia Nery - A gente não tem como precisar isso, mas não podemos nos esquecer que moramos no Brasil. Existem muitos casos que ficam impunes, que pessoas que eram para falar, para denunciar, ficam quietas. Então, isso pode acontecer, lógico que pode. Mas acreditamos, por conta de como andam as investigações, que isso será resolvido.

 

MidiaNews - E caso não sejam identificados?

 

Lívia Nery - Caso não sejam identificados, caso chegue um tempo que não ache ninguém, acho que a justiça cabe a Deus, porque senão nós vamos morrer. Se a gente for procurar a vida toda por uma sede de vingança, por achar alguém, isso vai adoecer a família. Vamos procurar todas as resoluções de acordo com o que a Justiça nos permite. Se não chegar a ninguém, se passar 20 anos, acreditamos que a justiça cabe a Deus.

 

Existem muitos casos que ficam impunes, que pessoas que eram para denunciar, ficam quietas. Então, isso pode acontecer

MidiaNews - A senhora confirma que a família fez um acordo financeiro com pessoas que foram denunciadas por ele um pouco antes de morrer?

 

Lívia Nery - Não seria a família, ele teria feito algum acordo. Meu pai talvez tentando uma negociação, mas não foi feito nenhum acordo antes dele morrer.

 

Ele estava tentando algum tipo de negociação, mas depois da morte, a única coisa que a gente fez foi tentar sair de todos os casos, de tudo que pudesse ameaçar a nossa segurança.

 

MidiaNews - O que gostariam de dizer às autoridades e ao público que acompanha o caso, especialmente agora que ele parece estar se desenrolando?

 

Lívia Nery - O foco hoje que a gente vê na mídia muito é quem matou o Renato Nery. O nosso foco e nossa preocupação é quem mandou matar, porque como eu disse desde o início, quem matou foi um mero contratado.

 

Nós aguardamos a resolução, acreditamos que a Polícia Civil está fazendo um trabalho correto. Tudo que está ao nosso alcance está sendo feito. E a mesma ansiedade que muita gente tem, nós também temos.

 

Veja a íntegra da entrevista:

 

 

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