Primavera do Leste é a primeira cidade de Mato Grosso a receber o projeto “Solos em Todos os Solos – Circuito Mato Grosso”. É uma plataforma itinerante que traz à apreciação do público em geral e estudantes duas peças de teatro contemporâneo, três oficinas e um intercâmbio com três grupos de teatros locais.
Gratuitamente, as exibições das peças teatrais ocorrerão na quinta-feira, 13 de março e sexta-feira, 14 de março. Os ingressos serão distribuídos uma hora antes do início de cada apresentação, na bilheteria do Teatro. As peças abertas ao público contarão com interpretação em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
Na primeira data o artista Vinicius Piedade (SP) sobe ao palco do Teatro Municipal em dois momentos para apresentar o espetáculo “Cárcere” (+12 anos). As 9h alunos da escola Alda G. Scopel ingressarão, exclusivamente, na plateia do teatro para assistir a peça, seguindo o cronograma de uma mediação escolar orientada pela mediadora Edilene Rodrigues, de Primavera do Leste.
Às 19h30 é hora da sessão aberta ao público. Na sexta-feira, a partir das 19h30, será hora da apresentação da peça “Sebastião” (+14 anos), apresentada pelo artista Fábio Vidal (BA). Sebastião participou de importantes Festivais de Teatro do Brasil e cumpriu temporada na Alemanha.
O espetáculo foi contemplado com o Prêmio Braskem de Teatro 2010, na categoria “Ator”, indicado na categoria “texto”. Este é um projeto contemplado pela “Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz 2023”, que potencializa pesquisas e práticas voltadas para a linguagem de espetáculos solos (Monólogos).
A ideia é fazer um encontro com o público nos mais diversos lugares, promovendo a continuidade da pesquisa, divulgação e escrita da dramaturgia contemporânea brasileira, na qual se empreende criações cênicas de caráter experimental.
CÁRCERE É uma reflexão sobre a liberdade através dos olhos de um pianista privado da sua liberdade e de seu piano. Depois de tempos tentando viver de sua arte e encontrando imensas dificuldades, acaba topando o convite de um “amigo” que lhe oferece um “bico” de venda de drogas, aproveitando o fato de ele ter contato com tanta gente nos tantos bares onde toca piano.
Estando no “CÁRCERE”, tentando negociar com a direção do presídio a entrada de um piano para ensinar outros presos a tocar, líderes de facções criminosas acham que sua conversa com a direção é na verdade “gaguetagem” e acabam jurando-o de morte. A direção da cadeia, numa tentativa precária de protegê-lo, coloca-o na ALA DOS SEGUROS.
O problema é que quando tem rebelião na cadeia, quem é candidato natural a refém é justamente quem está nessa ala. Quando começa a surgir um boato de que uma rebelião está na iminência de estourar, ele começa a escrever um diário.
É aqui que começa a peça. A proposta estética da peça percorre diferentes camadas e linguagens desde o humor corrosivo de um homem em estado de sítio a momentos essencialmente corporais.
“Eu preferia tocar piano e dizer o que tenho pra dizer em ritmo e disritmia, mas como aqui não tem piano eu escrevo, mesmo sem saber fazer poesia”. O espetáculo surgiu a partir de experiências de Vinícius Piedade no sistema prisional brasileiro, quando apresentou o espetáculo "CARTA DE UM PIRATA" em presídios do Espírito Santo.
A partir daí, veio a necessidade de falar sobre o oposto da prisão: a liberdade. Além disso, falar sobre RESSOCIALIZAÇÃO passou a ser um dos nortes da obra.
SEBASTIÃO
Esta encenação teatral é baseada em um fato verídico e singular ocorrido em 2007, na Bahia. Em Maracangalha, distrito próximo a Salvador, um avião transportando 5,6 milhões de reais, sofreu um acidente, caiu e foi saqueado por muitas pessoas. Ao invés de felicidade, este dinheiro trouxe desespero e terror para os moradores locais.
Esta história é contada e vivida por Sebastião, que se vê envolvido em uma trama de perseguição e violência, depois que participa do saque do dinheiro que caiu com o avião. Devoto do Padre Cícero, viciado em jogos e totalmente endividado, Sebastião, por obra do acaso, recebe um tesouro “dos céus” que acaba sendo o motivo de sua tragédia.
Um presente que vira uma maldição. Este espetáculo é uma teatralização de fatos que tratam sobre a natureza humana estabelecendo reflexões sobre o poder, o dinheiro, os direitos humanos, a ética, a violência, a baianidade, além de trazer referencias cotidianas.
Em meio a muitos personagens que ganham corpo e voz nas histórias contadas por este Jogador/narrador chamado Sebastião – Um anti-herói brasileiro que narra os acontecimentos dessa história real que mais parece um realismo fantástico.
Um teatro visual e sonoro onde as imagens e as palavras são usadas de modo artesanal e construídas a partir de fatos jornalísticos. Fabio Vidal aqui reafirma sua técnica, estética e filosofia de cena levados ao palco por um teatro múltiplo e essencial geradores de metáforas e poesias cênicas. Neste espetáculo que transita entre sensações diversas, que variam entre o cômico, o drama e o trágico.
OS ARTISTAS TÊM MAIS DE 20 ANOS DE PESQUISAS CÊNICAS
Fabio Vidal e Vinícius Piedade são realizadores cênicos que se destacam pela continuidade de suas pesquisas cênicas autorais há mais de 20 anos. São reconhecidos pela constante circulação nacional e internacional de suas obras apresentadas em todos os estados do país, além de outros vinte países, dentre eles: Alemanha, Angola, Argentina, China, EUA, França, Portugal, Rússia e Turquia. Eles trazem um projeto que visa fortalecer a pesquisa, divulgação e escrita da dramaturgia contemporânea brasileira, que foge dos ditames consolidados no mercado cultural e fomenta no público a sua capacidade de questionar valores sociais pré-estabelecidos.
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