Com a cotação do café melhorando nos mercados e com clientes cada vez mais exigentes com a qualidade do produto, cafeicultores do Distrito Federal estão animados com esse cultivo, de acordo com o secretário de Agricultura, Rafael Bueno. Ele disse ao Correio que, nos últimos anos, houve uma revalorização da bebida, e que isso foi impulsionado por uma mudança no comportamento do consumidor, que passou a buscar excelência.
"O café, atualmente, é visto como uma bebida gourmet. Isso, aliado ao aumento da demanda global e à redução da oferta por quebras de safra em algumas regiões do mundo, trouxe novo ânimo aos produtores brasilienses", afirmou.
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Na capital federal, segundo dados do GDF, 100 agricultores trabalham com cafezais distribuídos em um total de 440 hectares. Os números de 2024 da colheita dessa cultura estão em fase de consolidação e serão divulgados este mês pela Emater-DF. Representantes da empresa garantiram que o cultivo candango mostrará um "aumento significativo" em comparação a anos anteriores.
Empreendedores
Um dos que apostam no café é Rubens Alves, 69 anos, que planta no Lago Oeste. Segundo ele, no único hectare (10 mil m2) ao que se dedica, colhe cinco sacas (300 kg). "Estamos trabalhando para aumentar a produtividade e colher 10 sacas a partir de 2025 (na mesma área)", ressaltou.
Alves tem um modo peculiar de trabalhar. Ele realiza todo o processo manualmente, descartando os grãos estragados ou que não amadureceram bem. "Aqui é tudo bem artesanal, e isso agrega qualidade especial. O café commodity (o comum) é colhido de qualquer jeito, misturando grãos em diferentes estágios de maturação. Eu colho um a um", explicou.
Outro cafeicultor, Carlos Coutinho, 79, também do Lago Oeste, onde tem uma de suas duas plantações, disse: "A intenção era um cultivo de pequena escala". Com o passar do tempo, porém, percebeu que a área era propícia para cafés especiais, devido à altitude e ao clima favorável.
A outra área cultivada por Coutinho fica em Brazlândia. "Temos 80 e poucos hectares, com uma colheita média anual em torno de 2 mil sacas", contou.
Por outro lado, Bruno Caetano, engenheiro agrônomo, da Emater-DF, acrescentou que os cultivares brasilienses do grão têm utilizado métodos de gestão modernos. Ele disse que a utilização de variados tipos de fertilizantes e a irrigação, de maneira correta, têm impactado positivamente o rendimento das plantações.
Atualmente, os cafeicultores do DF plantam, principalmente, o café arábica, melhor adaptado ao DF. "Ele se adapta muito fácil ao clima de Brasília, o que favoreceu muito a produção. Além disso, ele é naturalmente menos amargo e mais valorizado pelos apreciadores", esclareceu Caetano.
Da plantação à xícara
O DF tem iniciativas para dar visibilidade ao café candango. A criação da Rota do Café é um exemplo delas. Idealizada por Tatiana André, 55 anos, conectará produtores, torrefações e cafeterias, para uma experiência completa aos apreciadores da bebida.
"Quero mostrar que há café de qualidade produzido aqui e fortalecer a cultura do café na nossa cidade", disse Tatiana.
Com o apoio da Secretaria de Agricultura (Seagri) e da Emater-DF, a rota visa oferecer aos visitantes a chance de conhecer todas as etapas do cultivo, desde plantações até a xícara servida em cafeterias. "A ideia é conectar esses elos e mostrar que muitos dos melhores cafés servidos na cidade vêm de fazendas locais", destacou.
O projeto inclui 110 participantes, desde propriedades até lojas especializadas em equipamentos. Algumas das regiões contempladas na rota serão Asa Norte, Asa Sul, Taguatinga, Águas Claras, Gama e Lago Oeste. "Esses locais são estratégicos para entender a diversidade da produção de café no DF", explicou.
Por sua vez, a presidente da Associação Elo Rural, Lívia Teobaldo, informou que a entidade trabalha para inserir o DF na rota mundial dos cafés especiais. Segundo ela, a região possui condições climáticas para a produção de grãos com qualidade: altitude elevada e baixa umidade no período de colheita.
Apesar do potencial, Lívia alertou:"O DF é a segunda unidade da federação com maior risco de falta de água. É essencial que os cafeicultores tenham acesso a tecnologias que aumentem a produtividade sem comprometer o meio ambiente".
Estudos
De acordo com a Secretaria de Agricultura, nos últimos anos, a produção de grãos especiais ganhou força na região. Para reforçar essa tendência, a Emater-DF tem oferecido suporte aos produtores com assistência técnica, capacitações, visitas e viagens técnicas, além de palestras.
Paralelamente, a Seagri está conduzindo um estudo para diagnosticar a cadeia produtiva no DF, identificando desafios e oportunidades para os cafeicultores. Outro levantamento envolve a colaboração com a Universidade de Brasília (UnB), que permitirá avaliar mais oportunidades para o grão na região.
Consumo
Dados da Associação Brasileira da Indústria de Café indicam que o consumo médio anual, no DF, é de 307,5 mil sacas, o que representa 1,40% do consumo nacional. Já a produção industrial da região, distribuída para venda ao consumidor final (em pó ou grão torrado), envolve 20,1 mil sacas de café por mês, em média.