O corpo do brasileiro-palestino Walid Khalid Abdalla Ahmad, morto aos 17 anos em uma prisão israelense, ainda não foi entregue à sua família passado mais de um mês desde o óbito.
Apesar dos esforços da diplomacia brasileira pela liberação, Israel não tem respondido aos apelos feitos pelo país. Uma justificativa para a manutenção do corpo de Walid sob a custódia do Estado judeu jamais foi dada oficialmente, bem como qualquer outra resposta sobre o caso.
O jovem morreu em 22 de março deste ano, na prisão de Megido, em decorrência de fome, desidratação e complicações infecciosas. Segundo uma autópsia entregue à família, o quadro foi agravado por “desnutrição prolongada e privação de intervenção médica”.
Nem mesmo o laudo com as causas da morte foi fornecido pelo governo israelense, que se mantém em silêncio — advogados que atuam no caso conseguiram obter o documento junto a médicos do presídio.
Interlocutores do governo brasileiro familiarizados com as tratativas diplomáticas afirmam que, embora não haja uma explicação formal para a demora, Israel tem como prática não liberar corpos de prisioneiros para usá-los como moeda de troca. A política dataria de antes do início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023.
Apelo a Lula
Um diplomata ouvido pela GloboNews afirma que Israel até pode reagir ao ser provocado pelo governo brasileiro em temas mais amplos, como já ocorreu depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparar a guerra em Gaza ao Holocausto, mas que o país tende a não dar respostas em casos concretos como o de Walid.
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O cidadão brasileiro-palestino Walid Khalid Abdalla morreu em uma prisão em Megido, em Israel — Foto: Reprodução
O pai do jovem de 17 anos, o também brasileiro-palestino Khaled Ahmad, diz à GloboNews que ele e toda a sua família sentem “uma tristeza profunda” pela perda do jovem e “uma dor enorme” por não poderem se despedir.
“Até agora, Israel não nos forneceu nenhuma justificativa para não liberar. E também não respondeu ao nosso pedido de restituição do corpo”, afirma Khaled, que pede que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atue no caso de forma ativa.
“Gostaria de fazer um apelo ao presidente do Brasil para que nos ajude a conseguir a liberação do corpo do nosso filho, para que possamos sepultá-lo de acordo com os ritos islâmicos. Acredito que ele possa nos ajudar, pois é um grande presidente de um grande país”, diz.
Prisão
Walid foi preso em 30 de setembro de 2024 na cidade de Silwad, na Cisjordânia, região ocupada por Israel. Acusado de agredir militares israelenses com pedras, ele não chegou a ser julgado antes de morrer.
O pai do brasileiro-palestino diz que Walid não tinha nenhum problema de saúde antes de ser detido.
Khaled conta que o filho cursava o ensino médio em uma escola particular, “era um jogador de futebol talentoso” e planejava estudar Ciências Financeiras e Bancárias na Universidade de Birzeit, na Cisjordânia, quando se formasse.
“No entanto, esses sonhos foram destruídos após sua morte na prisão israelense em consequência de tortura, doenças, negligência médica, fome e falta de higiene dentro dessas prisões”, afirma.
De acordo com a Federação Árabe-Palestina do Brasil, a prisão em Megido, onde Walid estava preso, é conhecida pelo uso de tortura com choques elétricos, espancamentos e privação de comida.
Reação do Brasil
Ao confirmar a morte do jovem, no mês passado, o Ministério das Relações Exteriores cobrou que o governo de Benjamin Netanyahu investigasse o caso e agisse com transparência.
“Em linha com suas obrigações internacionais, o governo israelense deve conduzir investigação célere e independente acerca das causas do falecimento, bem como dar publicidade às suas conclusões”, disse o Itamaraty.
“O governo brasileiro solidariza-se com os familiares e amigos do nacional e transmite sinceras condolências, ao tempo em que continuará a exigir do governo de Israel as explicações necessárias acerca da morte do menor”, completou.
Já Lula comentou o caso brevemente durante viagem ao Japão, em março. “Nós estamos vendo com muita seriedade o fim do cessar-fogo na Faixa de Gaza, onde muitas pessoas já foram mortas. E essa semana nós tivemos a tristeza de ver [a morte de] um brasileiro que foi preso na prisão em Israel", disse o presidente.